[Editorial] Revolta na segurança: Cuidado com aquilo que ‘não se quer ver’

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A imagem que você vê ao lado foi eleita pela UNICEF a foto do ano em 2007. Ela retrata a visível insatisfação de Ghulam, uma afegã de 11 anos de idade forçada a se casar com o homem ao lado, de 40 anos. Uma imposição medíocre e ultrapassada que causa revolta no mundo moderno.

Embora esse tipo de “casamento por conveniência” ainda seja tolerado por muitas sociedades do Oriente Médio, a grande maioria das vítimas desse absurdo – as meninas – não suporta as humilhações às quais são submetidas. Muitas delas, após alguns anos de ‘casamento’, se matam ateando fogo ao próprio corpo, devido à falta de leis ou do apoio social à sua revolta.

O caso de Ghulam é apenas um dos vários exemplos de que absolutamente nada funciona apenas por ‘conveniência’. Querer passar a imagem de que está tudo bem é uma iniciativa altamente mesquinha e perigosa.

Vejamos o caso da greve da segurança pública na Paraíba, em especial os policiais e bombeiros militares. Os profissionais paralisaram os trabalhos, a imprensa reagiu [muitas vezes distorcendo os fatos e desinformando a população] e a sociedade, naturalmente, viveu momentos de aflição só em pensar na ausência de PMs nas ruas.

No entanto, rapidamente a justiça decretou a greve ilegal, determinando que os policiais voltassem ao trabalho. A imprensa ‘comemorou’ [muitas vezes ironizando e alimentando ainda mais a indignação dos trabalhadores] e a sociedade, claro, pôde respirar aliviada.

Mas o cenário não é tão lindo assim como possa querer transparecer uma foto de casamento. Forçar os policiais militares voltar às ruas não é sinônimo de segurança. A proteção do cidadão, que há anos tem deixado muito a desejar, agora está muito mais longe de ser uma ‘garantia’, após os últimos acontecimentos.

Estar nas ruas não significa combater o crime, correr desesperadamente ao local das ocorrências, ou investigar os delitos que não foram presenciados em flagrante. Voltar às ruas, ainda com os nervos à flor da pele e o sentimento de revolta, pode ser algo muito pior do que uma greve.

É como se o povo paraibano fosse esse feioso de 40 anos, e as polícias representassem a jovem Ghulam. Qual o verdadeiro sentimento que o marido receberia da sua esposa, após ser forçado a “cumprir ordens por conveniência?” Será que esse maridão não ‘se toca’ que a menina não sente nenhum carinho por ele, simplesmente porque os anseios dela foram (e continuam sendo) ignorados? Se todo mundo continuar a fechar os olhos para a triste realidade de Ghulam [com a velha ‘ajudinha’ da imprensa], o que essa menina será capaz de fazer devido à falta de leis que a amparem e a ausência de apoio social?

No Brasil, forçar uma menina de 11 anos a se casar com um homem de 40 é um absurdo sem tamanho. Felizmente, nós já atingimos um certo ‘nível cultural’ que repudia veementemente esse tipo de conduta em nossa sociedade.

No entanto, ainda estamos muito atrasados quando o assunto é algo bem semelhante: sorrir com as “determinações por conveniência”. Acreditamos piamente naquilo que vemos, sem darmos conta de que a realidade é muito diferente do que querem nos mostrar.

Esta é a límpida e clara imagem atual da segurança pública da Paraíba. E se pudesse ser fotografada, com certeza venceria o Prêmio 2011 do Conselho de Segurança da ONU.

ParaibaemQAP