CIVIL X BRIGADA- Para Michels, Civil tem razão

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Cumprimento de mandado de busca na casa de um suspeito deflagrou crise entre as polícias de Caxias

Porto Alegre – A Polícia Civil deflagrou e saiu vitoriosa da mais recente crise da segurança caxiense, que confrontou a corporação e a Brigada Militar (BM). O veredicto foi dado na manhã de sexta-feira, pelo titular da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Airton Michels. Em nome da integração policial, o secretário endossou o documento, assinado por 16 delegados e encaminhado à Justiça caxiense, questionando o cumprimento de mandados de busca e prisão por PMs. As justificativas do secretário são bem simples: é atribuição constitucional da Polícia Civil cumprir mandados e é determinação do governo que todas as informações sobre crimes apuradas por PMs sejam repassadas à co-irmã. Michels ainda alertou que aqueles que lutarem contra a integração não terão espaço no governo Tarso Genro (PT).

A crise chegou ao conhecimento da SSP no sábado passado, quando o Pioneiro revelou com exclusividade a existência de um documento encaminhado à Justiça no dia 14 de fevereiro. Nele, a Polícia Civil reclamava por brigadianos cumprirem mandados de busca e apreensão, prejudicando investigações em andamento. Michels esperou quase uma semana para se pronunciar sobre o conflito que prejudicou sua promessa de transformar Caxias em um modelo de integração entre as corporações.

O assunto é tão importante para o secretário que, quando esteve na cidade pela primeira vez no cargo, no dia 24 de janeiro, ameaçou trocar os comandantes regionais caso seu pedido para integração não fosse cumprido. Nesta sexta-feira, tratou de tranquilizar o coronel Nicomedes Barros e o delegado Paulo Roberto Rosa da Silva, chefes das corporações da Serra. Entretanto, reforçou o alerta:

– Apesar desse curto-circuito, desse incidente, não serão feitas substituições. E posso reiterar que as polícias que não se integrarem não poderão trabalhar na nossa administração. Isso é um pressuposto. É uma diretriz de governo.

O secretário também esclareceu qual o entendimento da SSP sobre os cumprimentos de mandados de busca, para qual órgão informações sobre crimes devem ser repassadas e os prejuízos quando essa cadeia é quebrada. Segundo o secretário cabe, por uma questão legal, à Polícia Civil solicitar e cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão. O papel da BM é repassar as informações obtidas sobre crimes à coirmã para não interferir em investigações.

– Não tenho dúvida que o coronel Barros agiu com ótima intenção. Mas na ânsia de resolver um problema e prestar um bom serviço, acabou repassando informações ao Ministério Público, que solicitou o mandado, e atrapalhou a investigação da Polícia Civil. O adequado seria que ele levasse as informações à Polícia Civil – sentenciou.

GUILHERME A.Z. PULITA*|* Colaborou Adriano Duarte

 
 
Investigações do MP
O Ministério Público também faz investigações em Caxias. Para isso, solicita mandados de busca e apreensão à Justiça, geralmente cumpridos pela Brigada Militar.

CIVIL X BRIGADA

Defrec ainda investiga roubo

Responsável pela investigação do roubo de armas da Javali Caça e Pesca, estopim da crise, a Polícia Civil só conseguiu identificar até agora um suspeito de participação, que está foragido. No dia do assalto, dois homens invadiram o estabelecimento para carregar nove pistolas, seis escopetas, uma espingarda um revólver e um rifle.

Segundo o delegado Ives Trindade, testemunhas reconheceram o foragido da Justiça Luis Antônio da Silva, o Luizinho, 23 anos, como um dos homens que assaltaram a loja. O outro comparsa não foi identificado.

 
Paulo Rosa venceu queda de braço
Se há um vencedor na disputa entre a Polícia Civil e a Brigada Militar é o delegado Paulo Roberto Rosa da Silva. Há mais de uma década no comando da corporação na Serra, o delegado mostrou, mais uma vez, que é um dos nomes mais prestigiados pela cúpula da segurança no Estado. Em férias quando a crise eclodiu, Paulo retorna, após a Quarta-feira de Cinzas, com a confusão desfeita. Reassume o posto com a quase garantia que atravessará o terceiro mandato seguido de governador no principal cargo da Civil na região.
A confiança depositada ao longo dos anos por chefes de Polícia, secretários e governadores estaria justamente no poder do delegado Paulo em contornar crises e apresentar resultados, quando provocado. Foi assim nos últimos cinco anos com operações contra o tráfico de drogas, arrombamentos de bancos, assaltos a carros-fortes, roubos de veículos e arrombamentos a residências.
O delegado regional, no entanto, também precisa usar a ótima imagem para trazer mais agentes para Caxias. Há mais de uma década, a Polícia Civil tem os mesmos 100 servidores atuando na cidade. É pouco para um município de 435 mil habitantes e no qual a violência cresce a cada dia.
* Por Guilherme A.Z. Pulita

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