Somos todos baianos

45

O último dado divulgado sobre o aumento dos saques e homicídios na Bahia, durante a greve ou motim dos policiais, é estarrecedor. Em sete dias, foram 135 homicídios em Salvador, um acréscimo de 145% em relação a uma semana normal. Pela forma como o movimento nasceu, cresceu e continua apavorando o país, é preciso que as autoridades não pensem na Bahia simplesmente como um Estado da federação em que fracassou o diálogo entre o governo e os policiais. Neste momento, somos todos baianos em preocupação com o presente e o futuro.

Quem não vive na Bahia pode achar que o problema se restringe aos baianos ou a quem comprou pacote turístico para passar as férias ou o Carnaval em Salvador. Esses, sem dúvida, estão em apuros, porque correm o risco de passar as férias trancados no hotel, por questões de segurança, ou de não ver seus trios elétricos preferidos. Espera-se que o impasse termine antes do Carnaval, mas, como o objetivo dos grevistas é provocar transtornos para mostrar a força (e a importância) da polícia e assim conseguir o atendimento de suas reivindicações salariais, tudo é possível.

Somos todos baianos porque em maior ou menor grau a insatisfação dos policiais com os salários atinge quase todos o Estados e revoltas semelhantes podem eclodir em diferentes pontos do país. Criou-se no Congresso, de forma irresponsável, a expectativa de pagamento de um salário semelhante ao do Distrito Federal, com a aprovação da chamada PEC 300, que institui o piso nacional para os policiais. Detalhe: o mínimo em Brasília passa de R$ 4 mil, um valor incompatível com a situação financeira da maioria absoluta dos Estados.

Governadores que hoje estão às voltas com a pressão dos policiais precisam fazer um mea-culpa. Prometeram melhores salários na campanha, apoiaram greves semelhantes no passado, declararam apoio à PEC 300 e agora descobriram que não têm como pagar a conta da demagogia.

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

ZERO HORA