Secretário da Segurança Pública dá nota 5,5 para seu desempenho

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A lenta e gradual ascensão no número de homicídios, a onda de assaltos a bancos, o recrudescimento dos roubos de carros e a superlotação dos presídios preocupam o secretário estadual da Segurança Pública, Airton Michels. Tanto que, convidado a dar uma nota sobre sua própria performance, ele primeiro estranhou — “não costumo dar notas, não sou de colégio, participo de um projeto” — mas, em seguida, admite que ainda não atingiu os objetivos. E não hesita em se atribuir nota 6, logo corrigida para modestos 5,5.

— Não se resolve segurança pública de uma hora para outra. Temos um projeto gradual, que inclui mais vagas e humanização de presídios, policiamento comunitário e o cercamento eletrônico — observa.

A avaliação foi feita sexta-feira, a pedido de Zero Hora, numa entrevista concedida aos repórteres Francisco Amorim, Humberto Trezzi e José Luís Costa. Confira, ao lado, a síntese da conversa de uma hora com Michels.

Homicídios

Aumento sem explicação

“O número de agosto é muito alto (185 casos, a maior quantidade em 10 anos). Falei isso em uma reunião na secretaria hoje (sexta-feira). Mas o Brasil inteiro tem enfrentado um aumento dos homicídios neste ano, inclusive em São Paulo, onde vinha em queda havia anos. Não sabemos muito bem o que está por trás desse fenômeno, mas tivemos um aumento dos casos que não estão ligados ao tráfico, por exemplo. Em agosto do ano passado, foram três casos desse tipo. Agora, 14.”

Alento da força-tarefa

“Nos municípios onde atuou a força-tarefa da Brigada Militar, com exceção de Cachoeirinha, houve queda no números de mortes. No total, a queda ficou em 17%. Isso vai nos levar a manter a força-tarefa por tempo indeterminado. Já a força-tarefa da Polícia Civil deve acabar agora em outubro com a entrada de novos agentes que entraram no lugar dos agentes deslocado.”

Investigação eficiente

“Quando assumimos, orientamos para que investigassem homicídios. Não tivemos grandes resultados. Primeiro tem aquele argumento de que falta pessoal, que em parte procede, mas tem uma questão de gestão. Então nós resolvemos criar na metade do ano essa força-tarefa na Polícia Civil já que os resultados não eram o esperado. Os índices de resolutividade estavam baixíssimos. Em regiões mais conflituadas, como na região de Porto Alegre, é de 10% apenas. Agora, na maioria dos lugares onde ela está atuando, o índice (de solução) aumentou. Nós temos mais de 2,2 mil inquéritos represados nas duas delegacias de homicídios de Porto Alegre, que não tem força-tarefa, porque vai ganhar novas delegacias. Subimos de uma média de cerca de 20% para 68% no Estado. Isso é importante porque o argumento das polícias é de que não valia investigar porque ninguém quer ser testemunha. Provamos com a força-tarefa que é possível, sim, encontrar testemunhas.”

O medo que mobiliza

Pra Mim Chega é um nome que já diz a que vem. É assim que está sendo convocada uma passeata contra a violência no bairro Moinhos de Vento, na Capital, a partir das 11h de 6 de outubro — um sábado, véspera de eleição. A principal organizadora, a empresária Cynthia Requena Krupp, passou a fazer o convite, via redes sociais, após o assalto a um amigo.

Roubo de veículos

Crime com clamor social

“É um tipo de crime que tem oscilação. Está alto, mas não nos padrões que tínhamos em 2007 e 2008. Depois disso caiu e agora voltou a subir. Nestas regiões de maior concentração urbana temos tido um aumento. Sabemos que esse é um tipo de crime que tem grande clamor social, ainda mais quando alguém perde a vida.”

PMs saem, ladrão volta

A representante farmacêutica Mariana Dornelles, 29 anos, teve um revólver apontado contra o rosto por um ladrão, que levou seu Voyage 2011 na quarta-feira, à luz do dia. Aconteceu na Rua Artigas, em Petrópolis — a mesma onde, duas semanas atrás, o idosoEloy Kath foi assaltado, agredido e atropelado por um grupo de criminosos.

— O pior é que até cinco minutos antes de o ladrão agir minha rua estava repleta de PMs, que tinham prendido um assaltante. O bandido esperou os policiais saírem e me assaltou — reclama Mariana.

Até sexta-feira, a motorista ainda não havia localizado o carro. O único consolo é que o veículo tinha seguro. O bairro Petrópolis é o campeão de roubo de carros em Porto Alegre. É uma média de 34 casos por mês.

Ações no trânsito

“Para reduzir os roubos, a Brigada Militar terá mais ações no trânsito. Começou nesta semana. A Polícia Civil vai para a rua também com viaturas caracterizadas e discretas. Não fará policiamento como a Brigada, fará investigação. Também queremos, até o final do ano, lançar o edital para cerca eletrônica. Serão 122 câmeras, capazes de identificar placas de veículos, distribuídas na Região Metropolitana, ao custo de R$ 23 milhões. Isso será um reforço importante. Também nos ajudará na prevenção de outros crimes.”

Em oito meses, ladrões cometeram 7.848 roubos de carros (o que representa um aumento de 6%) e 10.053 furtos de carros (alta de 2%)

Explosões em bancos

Efetivo insuficiente

“Os bancos, nas cidades maiores, reforçaram a segurança. Aí os criminosos migraram para municípios menores. É um fenômeno nacional. Nós tivemos quase 20 ataques com explosivos, São Paulo teve 300. Santa Catarina, cerca de 90 num ano. A Bahia, 72 num mês. E os prefeitos querem mais policiamento. Sou obrigado a dizer: “não vai ter, sinto muito”. Em Jaquirana (onde foi explodida uma agência bancária sexta-feira) havia pelo menos cinco bandidos no ataque. Precisaria 20 PMs. Não tenho como colocar 20 PMs em cada um dos 497 municípios.”

Solução nacional

“Temos discutido esse assunto no Colégio Nacional dos Secretários de Segurança Pública. Uma das alternativas é unificar legislação que permita inutilizar notas dos caixas explodidos. Outra é criar uma estratégia nacional contra os ataques.”

Até a noite de sexta-feira, o Estado havia registrado 19 ataques de criminosos com explosivos contra bancos em 2012. Desse total, 42% ocorreram na Serra.

Presídios

As prisões do futuro

“Estamos concluindo vários presídios. Arroio dos Ratos já está recebendo presos. As moduladas de Charqueadas e Montenegro estarão com ala ampliada até outubro. Outros projetos estão no início. Vamos priorizar penitenciárias que não exijam licitação, a um custo 20% menor e que fiquem prontas mais rápido. Deve ser assim na prisão para jovens adultos. Num outro modelo, também de custo menor, faremos as prisões para apenados dependentes químicos. Esses são os presídios do futuro, que vão reduzir a criminalidade. Podem abrigar 70% da massa carcerária. São lugares em que a segurança não é alta, é externa. Têm dormitórios, é preciso vontade do preso de se recuperar. Esses podem ser construídos a um custo de R$ 18 mil por vaga, enquanto um presídio de média segurança (que, na real, é alta) exige R$ 40 mil por vaga.”

Redução de verbas federais

“O Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) saiu da pauta. A prioridade do governo federal, agora, é a fronteira. Recebemos R$ 20,5 milhões para patrulhar as regiões fronteiriças. Do Pronasci, que enviou ao Rio Grande do Sul R$ 375 milhões entre 2008 e 2010 (além de R$ 170 milhões de Bolsa-Formação para policiais), recebemos R$ 6 milhões em 2011. Ganhamos também do governo federal mais R$ 11 milhões da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Para os Territórios da Paz (policiamento comunitário em áreas de alta criminalidade) temos alguma verba guardada de outros anos, pouca. Teremos de investir com verba estadual, mesmo, no projeto Rio Grande na Paz. A verdade é que há um contingenciamento no Ministério da Justiça. O orçamento era de R$ 2 bilhões anuais, mais R$ 1,2 bilhão para o Pronasci. Agora é de R$ 2 bilhões, ao todo.”

Desde o início do ano o governo estadual acena com a criação de 3.140 novas vagas em 2012. A penitenciária que deve ser inaugurada primeiro é a Estadual de Arroio dos Ratos: está quase pronta, já abriga presos, terá 672 vagas.

ZERO HORA