Compensação em folga: via de mão dupla

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O bom policial militar, ciente da importância imensurável de sua função, tem a consciência que eventualmente terá que dar um pouco mais de si em prol da sociedade, o que deve ser devidamente compensado à altura. Eventualmente, próximo ao término da jornada de serviço, surge uma demanda inadiável que requer permanência daquele que estaria entrando de folga, e sua recompensa deveria ser imediata, o que nem sempre ocorre, quebrando a confiança necessária nesse tipo de relação.

A criminalidade sempre vai existir, então não se deve apenar o servidor exigindo dele mais do que sua obrigação na tentativa de reduzir a violência – também não deve ser aceito que faça menos do que seu dever. Comparando com a saúde pública, apesar das eternas necessidades da população carente, não se veem médicos permanecendo muito além de suas jornadas, ou comparecendo durante a folga, na tentativa de solucionar o problema – pelo contrário, muitos deles chegam indiferentes, com longo atraso, e atendem pessimamente aqueles humanos em momento fragilizado, mas não é sobre esse aspecto que vamos nos deter e muito menos nos inspirar.

Últimos instantes do serviço, uma grande crise ocorre, o policial cansado prolonga sua jornada por até o dobro do horário regular que iria cumprir: o que fazer? Compensá-lo o quanto antes, independente das sempre intermináveis necessidades. Acontece que, para não desfalcar o PO, a folga vai ficando para depois… Para não tirar uma viatura da área, adia mais um pouco… O tempo vai passando ao ponto de, quando o policial lembra ao superior que tem aquele crédito, ouve até com ironia que já “prescreveu”, que faz tanto tempo, deixa pra lá… Não, não pode ser assim.

Gera desmotivação ter seus momentos de livre convivência com a família ou exercício de quaisquer outras atividades substituídos por serviço subitamente, sem a certeza de que será ressarcido do prejuízo, até porque em alguns casos as perdas são irreparáveis, como em ocasião de compromissos em eventos marcantes da infância dos filhos e casos congêneres.

Você que exerce função de comando e gosta de contar com a abnegação do policial nessas horas, pense bem antes de desconsiderar a atitude altruísta do mesmo, para que amanhã, quando não receber retorno de uma convocação urgente, não fique parecendo que o subordinado é o único culpado pela falta de compromisso com a causa.

Autor:  – Tenente da Polícia Militar da Bahia