A permanência em serviço versus inatividade: uma escolha racional

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             Resumo

         Na semana em que a Brigada Militar comemorou o dia destinado aos servidores inativos, o presente ensaio versa sobre o momento de vida que antecede a aposentadoria, os diversos fatores pessoais, familiares, sociais e econômicos que envolvem essa nova fase. O intuito, portanto, é refletir sobre o viés carreira e realização pessoal.

Palavras-chave: inativação; preparação; propósito

             Introdução

           No dia 12 de novembro de 2018, a ASSTBM e ABAMF comemoraram o “dia do inativo da Brigada Militar”, com atividades esportivas e integradoras. Visualizando o site da entidade, relembro o convívio pessoal com esposo, parentes e amigos, além do convívio profissional, em face do exercício da advocacia e consultoria, aptos a respaldar algum conhecimento, ainda que superficial, acerca da rotina intensa com que se deparam tais profissionais da segurança pública. Dentre as atividades desempenhadas na Força destacam-se o policiamento ostensivo, segurança em presídios, atividades de alta periculosidade, aptas a proporcionarem o direito constitucional a uma aposentadoria especial.

Desse modo, o presente ensaio comenta essa fase de transição entre vida profissional ativa e os novos rumos que podem decorrer a partir daí.

              A (in)decisão pela inativação

            Próximo à idade da inativação, o policial militar, assim como diversos outros profissionais, das mais diferentes áreas, tendem a sofrer algum impacto nessa tomada de decisão, pois construíram uma vida inteira de competências funcionais, círculo de amizades, conhecimento, bem como a formação de uma “identidade”.

            Diversas pesquisas empíricas foram desenvolvidas no escopo de estudar esse fenômeno social que é a preparação para a aposentadoria, pois esta nova fase representa a possibilidade de uma mudança radical de vida, para alguns trazendo um sentimento de  perda, em relação aos conhecidos parâmetros, ficando “sem chão”, como se diz corriqueiramente; enquanto que, para outros, talvez mais empreendedores, isso possa significar novas vivências.

            Não é raro, especialmente na atividade policial, na qual o risco de vida está sempre presente, que a decisão pela inativação se imponha por questões de saúde, diante da necessidade de alguma atenção mais efetiva. Questões familiares igualmente tendem a ser decisivas nessa tomada de posição. Pelo contrário, também não é raro que a decisão pela permanência em serviço decorra da ausência de preparação para esse momento de transição.

                  A importância da consciência de grupo

            Com efeito, essas brevíssimas considerações tem o escopo de propor uma reflexão acerca dos diversos fatores que perpassam o momento pré-aposentadoria. Questões de índole pessoal, social, familiar, financeira, além de temas mais atuais de cunho espiritual, que condizem com o propósito de vida de cada um e a diferença que pretendem fazer no mundo em que vivem.

            O filósofo Cortella (2016, p. 17) ao questionar sobre propósito de vida, assenta que trabalhamos tanto por “sobrevivência”, quanto para “marcar nossa presença no mundo. Em outra passagem da obra que trata sobre trabalho, carreira e organização, Cortella (2016, p. 173) cita Beda, um escritor do século VIII, com o seguinte pensamento: “há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que se ensina; não perguntar o que se ignora”.

            Assim, denota-se de suma importância a confraternização entre profissionais em atividade e profissionais da chamada reserva remunerada, no sentido de uma tomada de consciência de grupo, troca de experiências e busca por outras conquistas, não apenas no campo financeiro, mas na seara da dignidade humana e na busca pela felicidade, a qual, inclusive, é direito constitucional.

            Essa troca de experiências também envolve a avaliação racional, diga-se de passagem, de cunho estritamente pessoal, no sentido do valor dado ao “tempo livre” e o valor financeiro de eventual gratificação de permanência.  Esse aspecto traduz critérios eminentemente objetivos, tais como o valor bruto da gratificação de permanência, desconto de impostos e outros gastos para manutenção da vida laboral.

Na obra “Propósito”, de Baba (2016, p. 91), é bem interessante a avaliação que esse Psicólogo e mestre espiritual, perfaz sobre o valor dado ao dinheiro, motivo pelo qual se torna salutar, igualmente, sopesar, o benefício de um acréscimo pecuniário frente a outros propósitos de vida.

                       Conclusão

            Certamente os breves comentários aqui narrados não desfrutam do objetivo de produzir uma regra padrão sobre o momento vivenciado quando se completam os fatores: idade, tempo de contribuição e tempo de serviço.

            O objetivo é tão somente refletir sobre a necessidade de pautar a preparação para a aposentadoria, tanto como forma de contribuir com a dignidade do colega que se direciona à reserva remunerada, quanto para valorizar o caminho trilhado e, bem assim, torná-lo mais iluminado para quem ainda o percorre.

Artigo por: Adriana Bitencourt Bertollo, Advogada Pública. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Especialista em Gestão Pública. Especialista em Direito Processual Civil. Mestranda em Direito das Relações Internacionais (Universidad De La Empresa, Uruguay). Email: bertollo0811@gmail.com

 

Referências

            BABA, Sri Prem. Propósito, a coragem de ser quem somos. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2016.

CORTELLA, Mário Sérgio. Por que Fazemos o Que Fazemos? 28ª edição, São Paulo: Editora Planeta, 2016.

FIGUEIRA, Desirée Ariane Mados. A Tomada de Decisão da Aposentadoria Influenciada por Relações Familiares e Laborais. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2017; 20(2): 207-215. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v20n2/pt_1809-9823-rbgg-20-02-00206.pdf, acesso em 13/11/2018.