Maior atraso no pagamento dos salários preocupa servidores do Estado

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Má notícia dada pelo governador Eduardo Leite pegou funcionalismo de surpresa: folha salarial de junho será quitada apenas em 12 de agosto e a folha de julho deve iniciar no dia seguinte

Por Ana Cláudia Capellari  DIÁRIO DA MANHÃ

Desde que os atrasos e parcelamentos de salários dos servidores estaduais tiveram início, no ano de 2015 ainda na gestão do emedebista José Ivo Sartori, a notícia que mais preocupa os funcionários é a de agora.

De acordo com o governador Eduardo Leite (PSDB), a folha salarial de junho deverá ser quitada por completo no dia 12 de agosto. O pagamento referente ao mês de julho deve começar no dia 13 do mesmo mês, com o depósito de R$2,5 mil.

O anúncio da situação tensa das contas do Estado ocorreu na terça-feira (23). Leite, ao lado do chefe da Casa Civil, Otomar Vivian e do vice-governador e secretário de segurança pública, Ranolfo Vieira Jr, teve de dar a notícia que pegou diversos servidores de surpresa, visto que a perspectiva para setembro, caso não entre mais receitas, pode piorar.

Um desses servidores que ficou surpreso é José Luiz Zibetti, 1º Tenente da reserva da Brigada Militar e presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar e Bombeiros Militares (ASSTBM).

Ele conta que a situação dos funcionários, em especial da segurança pública, “é muito ruim”. “O nosso serviço é diferenciado, os policiais passam risco de vida com a profissão e os parcelamentos, atrasos só traz danos”, diz.

O dano a que se refere Zibetti, além do financeiro, é o moral. “Com toda essa situação, imagina pagar juros do aluguel, da água, da luz, não só a Brigada, mas todos os funcionários do Executivo.

A segurança pública é um serviço muito complexo, nós não vamos deixar as famílias sem segurança”.   Ele cita ainda que diversos policiais já entraram em depressão por causa do stress de ver as contas vencendo e não ter como pagar.  Zibetti acrescenta que ultimamente a corporação tem tido muitas perdas de policiais em confronto com criminosos, o que agrava a situação de stress que os colegas passam.

José Luiz Zibetti, 1º Tenente da reserva da Brigada Militar e presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar e Bombeiros Militares

Para dar um ‘up’ nas finanças, o policial conta que alguns colegas tem feito ‘bicos’ para conseguir dinheiro extra. “O que acontece com esse serviço extra que ele faz para se manter é o horário. O policial faz isso, geralmente, no horário que ele teria para descansar, de folga, e sair do stress. A comunidade está aí a mercê da bandidagem e precisa ter um policial que dê condições de prestar um bom atendimento”.

PACIÊNCIA: ATÉ QUANDO?

José Luiz diz que há quase cinco anos o governo pede paciência aos policiais militares em relação ao pagamento dos salários. “Só que tem limite a paciência, nós temos colegas que chegam para comprar remédio e não têm dinheiro, a associação ajuda.  Até quando vai essa paciência? Não sei até quando conseguimos segurar o efetivo para que eles não tomem uma decisão mais drástica”.

Na Associação, relata Zibetti, há um espaço para que os associados possam fazer festas de aniversário e ter momentos de lazer. Esse espaço, nos quase cinco anos, fica vazio. “Temos na associação um salão para festas, para fazer o aniversário de um filho e isso não vemos mais, eles não conseguem mais, tudo porque a situação ficou crítica”.

GREVES

Sobre a ideia de paralisar os serviços, Zibetti se mostra cauteloso. Ele acredita que com essa prática a comunidade é a mais prejudicada. “Jeito que tá, com essa bandidagem, se inventar de parar os serviços, a população vai sair prejudicada. A Brigada Militar é a última muralha que está protegendo a sociedade, sempre sou paciente e tento segurar uma tropa muito agitada em relação a isso”.

VAQUINHAS

“Já fizemos ‘vaquinhas’ para os colegas e a associação ajuda como pode, ao emprestar dinheiro, trocar um cheque, para pagar o aluguel”, diz José Luiz. “É uma situação que ninguém esperava, achamos que não ia piorar tanto. Cada ano que vai passando achamos que a situação ia melhorar, e nada. Como entidade de classe, lutamos sempre pelo bem estar da família, a preocupação não é só com o policial que está na rua, mas com a família dele”, finaliza.