''Rebelião silenciosa'' na Brigada

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Exatamente no mês em que é comemorado o cinquentenário da Campanha da Legalidade – quando a Brigada Militar pegou em armas para defender o governo do Estado da ameaça de um ataque militar das forças federais – a realidade do Estado é completamente distinta. Hoje, praças da corporação, descontentes com os baixos salários, ameaçam inclusive paralisar as atividades. Protestos eclodem pelo Interior e podem aumentar nos próximos dias. A possibilidade de greve, envolvendo os servidores de nível médio da BM – de soldados e tenentes -, não é descartada. “Há uma rebelião silenciosa nos quartéis, e não vamos recuar”, advertiu um dos líderes das mobilizações, que pediu para não ser identificado.

Segundo ele, a queima de pneus, aos moldes do que ocorreu na madrugada de ontem na BR 285, em Passo Fundo, é apenas o começo de um movimento bem maior. O servidor lembrou que três trechos rodoviários já foram bloqueados com pneus em chamas desde o dia 4.

O mesmo receio tem o presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da BM (ASSTBM), Aparício Santellano. “Os brigadianos estão cansados de ser enganados pelo governo do Estado.” Santellano lembra que durante a campanha eleitoral, Tarso Genro prometeu que até o final de seu mandato, em 2014, um soldado teria rendimento de R$ 3,2 mil. Já o presidente da Associação Beneficente Antônio Mendes Filhos dos Servidores de Nível Médio da BM (Abamf-BM), Leonel Lucas, observa que caberá ao governador decidir se deseja ou não enfrentar uma greve. Conforme ele, a queima de pneus integra o calendário de mobilizações do movimento “Fecha Rio Grande”. Nos próximos dias, uma assembleia definirá o futuro das ações.

Gratificação para servidores

Com relação à Brigada Militar, Pestana e Michels anunciaram, ainda, que será solicitado regime de urgência ao projeto de lei complementar que institui gratificação por permanência para os servidores da BM. Pestana afirmou que o governo tem o compromisso de construir uma política salarial de valorização dos servidores da segurança pública.

Descontentamento entre oficiais

“Para nós oficiais de nível superior da Brigada Militar, legalidade é sermos tratados e remunerados com dignidade. O restante é conversa fiada.” A afirmação é do presidente da Associação dos Oficiais da BM (Asof-BM), José Carlos Riccardi Guimarães, lembrando que os capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis “estão indignados com o tratamento dispensado pelo governo do Estado”.

Aos moldes dos praças, que queimam pneus para denunciar o que chamam de situação de miséria a que estão submetidos, os oficiais já começam a se mobilizar e sinalizam que também darão visibilidade ao descontentamento. “Se para ser oficial da BM é necessário ser bacharel em Direito, queremos o mesmo tratamento dado às demais carreiras do funcionalismo, com o mesmo pré-requisito de acesso”, frisou. Riccardi ressaltou que um capitão da corporação tem remuneração equivalente a 1/4 do salário pago a um defensor público em início de carreira. “Ganhando bem menos, um capitão corre muito mais riscos”, comparou.

O subcomandante da BM, coronel Altair de Freitas Cunha, ressaltou que há preocupação do comando da corporação e do governo no sentido de qualificar a remuneração do efetivo. “O governo se comprometeu a apresentar uma proposta e, por isso, qualquer manifestação, neste momento, é inoportuna”, avaliou. Altair disse que elevar os salários da tropa é prioridade do comando e do Executivo. O coronel nega a existência de uma rebelião silenciosa em andamento. Prefere crer que as três queimas de pneus são fatos isolados, praticados “por meia dúzia de servidores descontentes”.

Fonte: Correio do Povo